A CRISE DO MULTILATERALISMO: SEGURANÇA INTERNACIONAL, CONTESTAÇÃO INSTITUCIONAL E FRAGMENTAÇÃO MINILATERAL

Resumo

O sistema internacional contemporâneo experimenta uma profunda crise do multilateralismo que transcende disfunções institucionais cíclicas e se manifesta como ruptura estrutural na governança global. O problema central refere-se a como a erosão institucional multilateral compromete a segurança internacional ao fragmentar a defesa coletiva, enfraquecer a prevenção de conflitos e desestabilizar marcos de controle de armas. O objetivo geral deste estudo consiste em analisar as conexões sistemáticas entre a crise institucional multilateral e a desestabilização da segurança internacional, examinando tanto as fontes estruturais da contestação institucional quanto suas manifestações concretas nos domínios da defesa e da estabilidade estratégica. Metodologicamente, o estudo adota uma abordagem qualitativa adaptada ao exame de fenômenos complexos envolvendo múltiplos atores, normas contestadas e dinâmicas institucionais. A pesquisa serve a propósitos tanto exploratórios quanto analíticos: mapear relações entre crise institucional e resultados de segurança onde marcos integrados permanecem escassos, enquanto examina criticamente como propriedades estruturais das instituições internacionais geram consequências de segurança através de trajetórias causais identificáveis. A coleta de dados envolve exame sistemático de declarações multilaterais, resoluções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, tratados regionais de defesa e documentos políticos de agrupamentos de potências emergentes. Os procedimentos analíticos combinam análise de conteúdo de documentos institucionais com síntese crítica da literatura acadêmica sobre teoria da ordem internacional, estudos de segurança e teoria de regimes. Os resultados da pesquisa indicam que a contestação do multilateralismo deriva de falhas endógenas da Ordem Liberal Internacional: iniquidades distributivas gerando queixas econômicas, déficits de reconhecimento negando status a potências não-ocidentais e contradições normativas entre princípios liberais proclamados e práticas efetivas. O estudo conclui que a proliferação de arranjos minilaterais, embora ofereça flexibilidade tática às grandes potências, exacerba sistematicamente a incoerência institucional e a imprevisibilidade estratégica, prejudicando Estados menos influentes e contribuindo para a instabilidade sistêmica ao invés de mitigar o vácuo de segurança criado pela erosão multilateral. Esta pesquisa visa contribuir para debates em curso sobre o futuro do multilateralismo e a relação entre arquitetura institucional e estabilidade estratégica.