DA DOR À DIGNIDADE: UMA LEITURA CRÍTICA DAS HISTÓRIAS DE VIDA DE MULHERES QUE SUPERARAM A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA

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Rogéria Fatima Madaloz
Joice Nara Rosa Silva
Carla Rosane da Silva Tavares Alves
Sirlei de Lourdes Lauxen

Resumo

A violência doméstica contra a mulher é um fenômeno mundial, que não se restringe a uma determinada classe social, raça, idade, não importando a religião ou escolaridade. As agressões são divididas em variados tipos, como psicológica, sexual, moral e patrimonial, porém, no relacionamento violento, elas acontecem de formas sobrepostas. Esta pesquisa tem como objetivo investigar a história de vida de mulheres que vivenciaram situação de violência doméstica e conseguiram romper com o ciclo, investigando as suas percepções, o que contribuiu para a sua permanência em uma relação violenta e qual foi o momento estanque e a rede de proteção necessária para que a ruptura fosse possível. Assim, a partir de tais percepções dessas mulheres, busca-se trazer uma leitura crítica dessa realidade social. Metodologicamente, a pesquisa, de abordagem qualitativa, pelo procedimento de estudo de histórias de vida, realizada no CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social de Panambi/RS, com três mulheres, que conseguiram   romper com o ciclo da violência doméstica e foram encaminhadas para atendimento psicológico. Foram realizadas entrevistas individuais, com roteiro de questionário semiestruturado, com permissão para serem gravadas e transcritas na íntegra. Os temas investigados nas entrevistas versaram sobre a família de origem, sua família atual (companheiro e filhos), o início da violência, os tipos de violência sofrida, a rede de proteção primária e secundária, o momento de ruptura e as expectativas e planos para o futuro. A partir da análise dos resultados, foi possível verificar que os primeiros episódios de violência ocorreram já no início da relação (no namoro) e, com o passar do tempo, as agressões foram se intensificando, o que acarretou baixa autoestima e autoconfiança, fazendo com que se sentissem desamparadas e a cada episódio de violência vinha a reconciliação, em que a mulher passava novamente a acreditar na possível mudança de comportamento do companheiro, o que fez com que elas permanecessem na relação. Podemos concluir que as lutas contra a violência doméstica passam pela mudança sócio-histórico-cultural do patriarcalismo cultivado ao longo das décadas, e essa transformação só é possível por meio da articulação da temática na educação, minimizando a realidade da violência doméstica e trabalhando desde cedo os papéis masculino e feminino em sala de aula, de forma a oportunizar a desconstrução dos estereótipos dos papéis do “ser homem e ser mulher”.

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Como Citar
MADALOZ, R. F. .; SILVA, J. N. R.; ALVES, C. R. da S. T. .; LAUXEN, S. de L. . DA DOR À DIGNIDADE: UMA LEITURA CRÍTICA DAS HISTÓRIAS DE VIDA DE MULHERES QUE SUPERARAM A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 16, n. 47, p. 567–598, 2023. DOI: 10.5281/zenodo.10222211. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/2722. Acesso em: 21 dez. 2024.
Seção
Ensaios

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