DAS CONDIÇÕES DE POSSIBILIDADE À VONTADE DE VERDADE: SENTIDOS SOBRE DEMOCRACIA NO DISCURSO DE JAIR BOLSONARO
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Resumo
Com o advento da internet, a facilidade de acesso à informação e a imediaticidade de contato com o público digital fizeram com que o olhar dos políticos se voltasse para o potencial que as redes sociais teriam para seus objetivos. Destaca-se nesse grupo, o ex-presidente da República Jair Bolsonaro que construiu sua campanha eleitoral à presidência em 2018 através das redes sociais Facebook e Twitter (atual X) e, uma vez eleito, manteve sua comunicação do governo por meio destas plataformas. Assim, este estudo objetiva analisar o discurso sobre democracia presente nas declarações de Bolsonaro no Twitter durante o período eleitoral de 2022, visando compreender o funcionamento da vontade de verdade e das condições de possibilidade desse discurso. O aporte teórico, comunga das contribuições da Análise do Discurso de linha foucaultiana (2012; 2019). Metodologicamente, trata-se de um estudo descritivo-interpretativo de natureza qualitativa, com coleta de dados realizada através do levantamento sistemático de tweets publicados por Bolsonaro durante o período eleitoral de 2022. Os procedimentos de análise envolveram a organização do corpus em duas séries enunciativas, seguida da análise das condições de possibilidade e das vontades de verdade que constituem os discursos, conforme pressupostos teórico-metodológicos foucaultianos. Os resultados evidenciam que o discurso sobre democracia de Bolsonaro é marcado por uma regularidade discursiva que opera em duas direções principais: os ataques à oposição, caracterizando-a como ameaça aos valores democráticos, e a defesa da liberdade como pilar fundamental da democracia. Esta regularidade evoca tanto as discursividades da eleição vitoriosa de 2018 quanto as bases da formação ideológica do chamado bolsonarismo. Conclui-se que os sentidos de democracia produzidos nos tweets analisados são atravessados por uma vontade de verdade que busca legitimar uma concepção específica de democracia, alinhada aos interesses político-ideológicos do então presidente/candidato, ao mesmo tempo em que desqualifica visões divergentes sobre o regime democrático.
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