CARTOGRAFIAS NO TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO: AION, CRONOS E SOLDADOS NA TRIPLICE FRONTEIRA
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Resumen
O trópico de capricórnio corta os estados brasileiros do Paraná, São Paulo e Mato Grosso. Um território que, no século XVI, era de domínio espanhol. A triplice fronteira atual formada por Brasil, Paraguai e Argentina estão localizados neste mesmo e modificado território. Nela, memórias do tempo passado e do presente se cruzam de diversas formas. Apresentamos a discussão sobre o texto de um Relatório Militar, escrito em 1942, de autoria do 3º Sargento do Exército, Manuel Cursino Dias Paredes, quando da ocasião de sua visita à esta tríplice fronteira; ele se desloca por via hidrográfica nos rios Iguassu, Paraná e Ivai, refazendo itinerários que remonta a ancestralidades imperais e indígenas em disputa territorial, no século XVI. A fonte faz parte do acervo do DOPS/Pr. A análise dessa fonte histórica, crivada por um processo hermenêutico, deve fazer uma inserção no tempo e perquirir sobre seu conteúdo, como, quando, por quem e onde é construído? Há indícios do tempo presente: anos 1940 onde a identidade e integração nacional eram as temáticas que envolviam a produção historiográfica, a diplomacia e a atuação de forças militares. O resultado da análise apontou que as palavras, os conceitos e itinerários estão carregados de sentidos, deslocamentos e cocriações (DELEUZE e GUATARRI,2000); seu discurso é da ordem do normativo (FOUCAUT, 2014) e a guarda documental revela práticas de conservacionismo de memória (ALBUQUERQUE JR,2013; POLLAK,1989; LE GOFF,2003) frente as demandas sociais do tempo presente. O método hermenêutico adotado na análise, permitiu compreender o deslocamento que a produção de um Relatório realiza por dentre fantasmagorias construídas sobre a disputa territorial e que foram praticadas/lembradas na forma documental em 1940; o fragmento e a análise permite concluir e pensar nos mitos gregos de Aion e Cronos que Deleuze e Guatarri os aponta tecendo e controlando o tempo, ou seja, as práticas políticas de controle da memória e do território tecem o presente com memórias fantasmagóricas do passado. Este artigo é um ensaio interpretativo destas possibilidades.
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