A CRISE AMBIENTAL E OS LIMITES DO LIBERALISMO NAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS: ESTUDOS DE CASO DE BELO MONTE E DA ONG COOL EARTH
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Resumo
A crise ambiental global tem sido impulsionada por modelos econômicos baseados na expansão ilimitada da produção e do consumo, particularmente aqueles informados pelos princípios do liberalismo econômico. No campo das Relações Internacionais, esse paradigma influencia tanto a governança ambiental quanto as estratégias adotadas por Estados e atores transnacionais diante da emergência ecológica. Este estudo tem como objetivo analisar a influência do pensamento liberal na crise ambiental contemporânea, com ênfase específica na forma em que suas premissas moldam práticas institucionais e iniciativas de conservação em escala global. A pesquisa utiliza o método qualitativo, com procedimentos de levantamento baseados em revisão bibliográfica e documental, e análise comparativa de dois estudos de caso: (1) a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Brasil, como exemplo de intervenção estatal desenvolvimentista; e (2) a atuação da ONG britânica Cool Earth na Amazônia, representando a lógica de conservação via propriedade privada. Os resultados indicam que, embora situados em contextos distintos, ambos os casos revelam limitações estruturais do paradigma liberal para lidar com os desafios socioambientais, seja pela subordinação dos direitos ecológicos à expansão econômica, seja pela mercantilização da natureza. Conclui-se que, para uma governança ambiental mais eficaz e justa, é necessário superar os limites do liberalismo clássico e incorporar princípios de justiça ambiental e respeito aos limites ecológicos.
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