PERCEPÇÕES DOS GESTORES DE SAÚDE SOBRE SAÚDE MENTAL
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
O presente estudo teve como objetivo identificar as percepções dos profissionais gestores de saúde quanto à repercussão do seu cargo em sua saúde mental. Estudo descritivo, com abordagem qualitativa. Para tanto, contou com a participação de nove gestores em saúde. As entrevistas foram conduzidas entre 9 e 25 de julho de 2022 via Google Meet, utilizando um roteiro semiestruturado com perguntas relacionadas à gestão e saúde menta. As entrevistas foram gravadas em áudio e vídeo e, transcritas posteriormente. Os dados foram organizados segundo três fases orientadas por Minayo, da análise de conteúdo, na modalidade temática. Na última fase, foi realizado o processamento do conteúdo textual do corpus a partir de uma análise lexicográfica com suporte do software Iramuteq. Por meio do processamento da Classificação Hierárquica Descendente (CHD), obtiveram-se como resultados, cinco classes temáticas, correspondentes à unidade de registro apresentada por meio do dendrograma. Os resultados apontam melhorias necessárias no ambiente de trabalho e no relacionamento interpessoal. Destacam que o poder decisório do gestor, a continuidade do trabalho no ambiente familiar, a sobrecarga de trabalho, os aplicativos de mensagens e as demandas além da capacidade de resposta comprometem a saúde mental, deixando-os esgotados e com dificuldade para dormir. Ressaltam também que desenvolver o trabalho em gestão durante a pandemia de COVID-19 foi desafiador. Revelaram ainda como estratégias para preservar a saúde mental: gestão participativa, diálogo e compreender as particularidades dos profissionais. O estudo destacou a percepção dos gestores sobre a relação do ambiente de trabalho com o comprometimento da saúde mental e concluiu que o poder decisório repercute de forma negativa na saúde mental e que pedidos de exoneração são comuns, devido à dinâmica de trabalho e a sobrecarga vivenciada diariamente. O uso de tecnologias de informação e a extensão da jornada laboral para o ambiente familiar, ocasionou prejuízos à qualidade de vida, alterações no sono, fadiga, altos níveis de estresse, esgotamento físico e mental, e que o período pandêmico intensificou as demandas preexistentes comprometendo ainda mais a saúde mental dessa força de trabalho, o que aponta para a necessidade de realização de mudanças nas práticas organizativas, bem como nos processos de trabalho dos gestores.
##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos autorais (c) .
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Referências
ALVES, A. A. M.; RODRIGUES, N. F. R. “Determinantes sociais e económicos da Saúde Mental”. Revista Portuguesa de Saúde Pública, vol. 28, n. 2, 2010.
ANTUNES, R (org.). A dialética do trabalho: escritos de Marx e Engels. São Paulo: Editora Emancipação Popular, 2013.
ANTUNES, R. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços da era digital. São Paulo: Editora Boitempo, 2018.
BALDANZA, R. F. et al. “Celulares e o trabalho: um estudo sobre os impactos no trabalho e pós-trabalho”. Revista de Administração Hospitalar e Inovação em Saúde, vol. 13, n. 2, 2016.
BARALDI, S. et al. “Globalização e seus impactos na vulnerabilidade e flexibilização das relações do trabalho em saúde”. Trabalho, Educação e Saúde, vol. 6, n. 3, 2008.
BASTIDAS JIMÉNEZ, M. J.; CALLE CARRIÓN, I. C. “The Burnout in Health Professionals in Guayaquil”. Journal of business and entrepreneurial studies, vol. 8, n. 2, 2024.
BRADSHAW, C.; ATKINSON, S.; DOODY, O. “Employing a qualitative description approach in health care research”. Global Qualitative Nursing Research, vol. 4, 2017.
BRAGA, L. C.; CARVALHO, L. R.; BINDER, M. C. P. “Condições de trabalho e transtornos mentais comuns em trabalhadores da rede básica de saúde de Botucatu (SP)”. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 15, 2010.
BRASIL. “O Sistema público de Saúde Brasileiro”. Anais do Seminário Internacional Tendências e Desafios dos Sistemas de Saúde nas Américas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
BRASIL. A Gestão do SUS. Brasília: CONASS, 2015. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
BRASIL. Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990. Brasília: Planalto, 1990. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
BRASIL. Política Nacional de Gestão Estratégica e Participativa no SUS – Participa SUS. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
BUSETTO, L.; WICK, W.; GUMBINGER, C. “How to use and assess qualitative research methods”. Neurological Research and Practice, vol. 2, 2020.
CAMARGO, B. V.; JUSTO, A. M. Tutorial para uso do software Iramuteq. Florianópolis: UFSC, 2018.
CASTRO, J. L. et al. “A gestão da pandemia de covid-19 e as suas repercussões para o gestor do SUS”. Saúde e Sociedade, vol. 32, 2023.
CHEN, S. et al. “Mental health status and coping strategy of medical workers in China during the COVID-19 outbreak”. MedRxiv [2020]. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
CNDSS - Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas sociais das iniqüidades em saúde no Brasil. Brasília: CNDSS, 2008. Disponível em: . Acesso em: 24/09/2024.
CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE. Resolução 466, de 12 de dezembro de 2012. Brasília: CNS, 2012. Disponível em: . Acesso em: 20/06/2024.
DAHLGREN, G.; WHITEHEAD, M. Policies and Strategies to Promote Social equity in health: Background document to WHO – Strategy paper for Europe. Stockholm: Institute for Future Studies, 1991.
DEJOURS, C. A banalização da injustiça social. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.
DEJOURS, C. A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Editora Cortez, 1992.
FERNANDES, M. A. et al. “Comunicación y relaciones interpersonales entre trabajadores de la salud en la pandemia COVID-19”. Cultura de los Cuidados, vol. 25, n. 2, 2021.
FERREIRA, C. A. A. et al. “O Contexto do Estresse Ocupacional dos Trabalhadores da Saúde: Estudo Bibliométrico”. Revista de Gestão em Sistemas de Saúde, vol. 5, n. 2, 2016.
FRANCO, G. T.; PEREIRA, J. S. “Os desafios da gestão pública na saúde”. Revista Científica Multidisciplinar, vol. 2, n. 8, 2021.
GLERIANO, J. S. et al. “Reflexões sobre a gestão do Sistema Único de Saúde para a coordenação no enfrentamento da COVID-19”. Escola Anna Nery, vol. 24, 2020.
GUIMARÃES-TEIXEIRA, E. et al. “Comorbidades e saúde mental dos trabalhadores da saúde no Brasil. O impacto da pandemia da COVID-19”. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 28, n. 10, 2023.
HANSEL, T. C.; SALTZMAN, L. Y.; MELTON, P. A. “Work Environment and Health Care Workforce Well-Being: Mental Health and Burnout in Medically Underserved Communities Prone to Disaster”. American Journal of Public Health, vol. 114, n. 2, 2024.
HILTON, M. F. et al. “Employee absenteeism measures reflecting current work practices may be instrumental in a re-evaluation of the relationship between psychological distress/mental health and absenteeism”. International Journal of Methods in Psychiatric Research, vol. 18, n. 1, 2009.
KAKEMAM, E. et al. “Prevalence of depression, anxiety, and stress and associated reasons among Iranian primary healthcare workers: a mixed method study”. BMC Primary Care, vol. 25, n. 1, 2024.
LOPES, L. T.; BARROS, F. P. C. “Gestão de recursos humanos do SUS na pandemia: fragilidades nas iniciativas do ministério da saúde”. Saúde em Debate, vol. 46, n. 133, 2022.
LORENZETTI, J. et al. “Health management in Brazil: dialogue with public and private managers”. Texto e Contexto - Enfermagem, vol. 23, n. 2, 2014.
LOURENÇÃO, L. G. “Qualidade de vida, engagement, ansiedade e depressão entre gestores de Unidades da Atenção Primária à Saúde”. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental, n. 20, 2018.
MACEACHEN, E. et al. “Return to Work for Mental Ill Health: A Scoping Review Exploring the Impact and Role of Return to Work Coordinators”. Journal of Occupational Rehabilitation, vol. 30, 2020.
MAFFIA, L. N.; PEREIRA, L. Z. “Estresse no trabalho: estudo com gestores públicos do estado de Minas Gerais”. Revista Eletrônica de Administração, n. 3, 2014.
MALAMAN, L. B. et al. “Gestão em saúde e as implicações do secretário municipal de saúde no SUS: uma abordagem a partir da análise institucional”. Physis: Revista de Saúde Coletiva, vol. 31, n. 4, 2021.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2017.
MENDES, E. V. O lado oculto de uma pandemia: a terceira onda da covid-19 ou o paciente invisível. Brasília: CONASS, 2020.
MINAYO, M. C. S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São Paulo: Editora Hucitec, 2014.
MITTERMEIER, I. et al. “Mental health and work-related factors in healthcare workers in a pandemic - meta-analysis”. Psychology, Health and Medicine, vol. 28, n. 10, 2023.
MOIZÉIS, H. B. C.; TORRES, A. R. R.; ESTRAMIANA, J. L. A. “Representações sociais sobre o início da vida humana: uma análise dos elementos textuais do Brasil e Espanha”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 17, n. 50, 2024.
MORAIS, A. J. D. et al. “Síndrome de Burnout em médicos de estratégia saúde da família de Montes Claros, MG, e fatores associados”. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, vol. 13, n. 40, 2018.
MORENO, F. N. et al. “Estratégias e intervenções no enfrentamento da síndrome de burnout”. Revista de Enfermagem da UERJ, vol. 19. n. 1, 2011.
MORETTO, M. R. G.; PADILHA, V. “Quem manda também sofre: um estudo sobre o sofrimento de gestores no trabalho”. Cadernos de Psicologia Social do Trabalho, vol. 23, n. 2, 2020.
NAVARRO, V. L.; PADILHA, V. “Dilemas do Trabalho no Capitalismo Contemporâneo”. Psicologia e Sociedade, vol. 19, 2007.
OZANAM, M. A. Q. et al. “Satisfação e insatisfação no trabalho dos profissionais de enfermagem”. Brazilian Journal of Development, vol. 5, n. 6, 2019.
PABLO, G. S. et al. “Impact of coronavirus syndromes on physical and mental health of health care workers: systematic review and meta-analysis”. Journal of Affective Disorders, vol. 275, 2020.
PEDROSO, D. O. O. et al. “Importância da Motivação dentro das Organizações”. Revista Ampla de Gestão Empresarial, n. 1, 2012.
PERUZZO, H. E. et al. “Os desafios de se trabalhar em equipe na estratégia saúde da família”. Escola Anna Nery, vol. 22, n. 4, 2018.
POLETTO, N. A. et al. “Síndrome de Burnout em gestores municipais da saúde”. Cadernos Saúde Coletiva, vol. 24, n. 2, 2016.
PORCIUNCULA, A. M.; VENÂNCIO, S. A.; SILVA, C. M. F. P. “Síndrome de Burnout em gerentes da Estratégia de Saúde da Família”. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 25, n. 4, 2020.
REUSCHKE, D.; HOUSTON, D.; SISSONS, P. “Impacts of Long COVID on workers: a longitudinal study of employment exit, work hours and mental health in the UK”. PLoS ONE, vol. 19, n. 6, 2024.
ROBBINS, S. R. Comportamento organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
SALVADOR, P. T. C. de O. et al. “Uso do software Iramuteq nas pesquisas brasileiras da área da saúde: uma scoping review”. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, vol. 31, n. 1, 2018.
SILVA, A.; RIBEIRO, J. A.; RODRIGUES, L. A. Sistemas de informação na administração pública. Rio de Janeiro: Editora Revan, 2004.
SILVA, R. O.; SILVA, D. N. “Impactos do novo coronavírus nas organizações e as inovações no mundo do trabalho, saúde e educação”. Anais do XI Colóquio Organizações, Desenvolvimento e Sustentabilidade. Belém: UFPA, 2020.
SOARES, J. P. et al. “Fatores associados ao burnout em profissionais de saúde durante a pandemia de Covid-19: revisão integrativa”. Saúde em Debate, vol. 46, 2022.
SOARES, J. P. et al. “Gestão em saúde e Burnout: prevalência e fatores associados durante a pandemia da Covid-19”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 17, n. 50, 2024.
THEOFILOU, P. “Work Environment and Mental Health of Employees in Health Care”. SciBase Epidemiology Public Health, vol. 1, n. 1, 2023.
TONG, A.; SAINSBURY, P.; CRAIG, J. “Consolidated criteria for reporting qualitative research (COREQ): a 32-item checklist for interviews and focus groups”. International Journal for Quality in Health Care, vol. 19, n. 6, 2007.
TRINDADE, L. R. et al. “Fatores de adoecimento dos trabalhadores da saúde: revisão integrativa”. Ciência, Cuidade e Saúde, vol. 16, n. 4, 2017.
VALIATI, F. A extensão das jornadas de trabalho dos gestores: um desfavor das tecnologias na sociedade contemporânea (Trabalho de Conclusão de Curso em Administração). Porto Alegre: UFRS, 2017.
VARELA, M. J. V. et al. “Insomnia: chronic illness and suffering”. Revista Neurociencias, vol. 13, n. 4, 2005.
VIACAVA, F. et al. “SUS: oferta, acesso e utilização de serviços de saúde nos últimos 30 anos”. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 23, n. 6, 2018.
WANG, S. et al. “Sleep disturbances among medical workers during the outbreak of COVID-2019”. Occupational Medicine, vol. 70, n. 5, 2020.
WHO - World Health Organization. Comprehensive Mental Health: Action Plan 2013-2030. Geneva: WHO, 2021. Disponível em: . Acesso em: 25/03/2024.
WHO - World Health Organization. World mental health report: transforming mental health for all. Geneva: WHO, 2022. Disponível em: . Acesso em: 25/03/2024.
WILLIAMS, G. A. et al. “What strategies are countries using to expand health workforce surge capacity to treat COVID-19 patients?” Eurohealth, vol. 26, n. 2, 2020.