A DEMOCRACIA RADICAL E A CONDIÇÃO ANTIESSENCIAL DE SUA CONTRA-HEGEMONIA

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

Pedro Fauth Manhães Miranda
Karoline Coelho de Andrade e Souza

Resumo

O modelo de democracia liberal abraça a contingência, permitindo a coexistência entre sujeitos diferentes, mas iguais, bem como o dissenso de ideais opostos, mas livremente vocalizados. Desde que estes sujeitos e discursos não obstruam tal pluralismo, o amanhã estará sempre aberto para propostas cada vez mais democráticas, porque fundado sobre o antiessencialismo. Na prática, porém, a busca pela essência, pelo centro normativo da estrutura, foi – e, para muitos, ainda é – o norte das ciências, impactando mesmo as teorias democráticas com a ideia do único caminho possível. Justamente por isso, a Democracia Radical, teoria de Chantal Mouffe e Ernesto Laclau, parte da multiplicação de espaços nos quais os membros da sociedade civil e da sociedade política desenvolveriam articulações heterogêneas, de modo a maximizar a liberdade e a igualdade num pluralismo que reconheça a inerradicabilidade do conflito. Portanto, o objetivo da presente pesquisa exploratória é debater meios de a contra-hegemonia antiessencialista radicalizar a democracia liberal. O método utilizado foi o histórico-dedutivo, enquanto o levantamento de dados se deu via revisão bibliográfica e documental indireta. A análise destes dados, por sua vez, foi embasada em uma hermenêutica propositiva. Os resultados apontam para a potencialidade brasileira em concretizar tal proposta, por contar com milhares de ferramentas participativas, como os Conselhos Gestores e as Conferências de Políticas Públicas, mas que nunca tiveram suas potencialidades contra-hegemônicas ativadas. Ao final, opinamos que a radicalização democrática perpassa pelo fortalecimento destes espaços, em um sentido oposto ao concretizado pelo Governo Bolsonaro, o qual promoveu ataques a estes órgãos com intuitos claramente autoritários.

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Como Citar
MIRANDA, P. F. M.; SOUZA, K. C. de A. e. A DEMOCRACIA RADICAL E A CONDIÇÃO ANTIESSENCIAL DE SUA CONTRA-HEGEMONIA. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 17, n. 51, p. 106–133, 2024. DOI: 10.5281/zenodo.10864588. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/3655. Acesso em: 26 dez. 2024.
Seção
Ensaios

Referências

BEZERRA, C. P., et al. “Desinstitucionalização e resiliência dos conselhos no governo Bolsonaro”. Scielo Prepints [2022]. Disponível em: Acesso em: 25/06/2023.

BRUNILA, T. “Depoliticization of politics and power: Mou e and the conservative disposition in postfoundational political theory”. Frontiers in Political Science, vol. 4, 2022.

COUTINHO, C. N. De Rousseau a Gramsci: ensaios de teoria política. São Paulo: Editora Boitempo, 2011.

CROZIER, M.; HUNTINGTON, S. P.; WATANUKI, J. The Crisis of Democracy: Report on the Governability of Democracies to the Trilateral Commission. New York: University PressNova Iorque, 1975.

EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010.

ERREJÓN, Í.; MOUFFE, C. Construir Pueblo: hegemonía y radicalización de la democracia. Barcelona: Icaria Editorial, 2015.

GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere: Maquiavel – notas sobre o Estado e a Política. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2007.

GRAMSCI, A. Cadernos do Cárcere: Os Intelectuais e o Princípio Educativo. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2001.

GRAMSCI, A. Escritos políticos. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2004.

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Perfil dos municípios brasileiros - 2018. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

KELSEN, H. Teoria pura do Direito. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2009.

KOZICKI, K. Conflito X Estabilização: Comprometendo Radicalmente a Aplicação do Direito com a Democracia nas Sociedades Contemporâneas (Tese de Doutorado em Direito). Florianópolis: UFSC, 2000.

LACLAU, E. New reflections on the revolution of our time. London; New York: Verso, 1997.

LACLAU, E.; MOUFFE, C. Hegemonia e estratégia socialista: por uma política democrática radical. Brasília: CNPq, 2015.

LEFORT, C. A invenção democrática: os limites da dominação totalitária. São Paulo: Editora Brasiliense, 1983.

LÉVI-STRAUSS, C. Antropologia Estrutural. São Paulo: Editora Ubu, 2017.

LUXEMBURGO, R. “Greve de massas, partido e sindicatos”. In: LOUREIRO, I. M. (org.) Textos escolhidos (1899-1914). São Paulo: Editora da Unesp, 2011.

MARX, K. A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas (1845-1846). São Paulo: Editora Boitempo, 2007.

MARX, K.; ENGELS, F. Manifesto comunista. São Paulo: Editora Boitempo, 2010.

MIGUEL, L. F. Dominação e resistência: desafios para uma política emancipatória. São Paulo: Editora Boitempo, 2018.

MIRANDA, P. F. M. E depois da pós-democracia?: a participação social brasileira na disputa política entre o neoliberal-autoritarismo e a democracia-radical (Tese de Doutorado em Direito). Curitiba: PUCPR, 2023.

MOUFFE, C. Agonistics: thinking the world politically. Nova Iorque: Verso, 2013.

MOUFFE, C. O regresso do político. Lisboa: Editora Gradiva, 1996.

MOUFFE, C. Por um populismo de esquerda. São Paulo: Editora Autonomia Literária, 2019.

MOUFFE, C. Sobre o político. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2015.

MOUFFE, C. The democratic paradox. Nova Iorque: Verso, 2000.

NASCIMENTO, C. E. G. “Crise da representatividade e o mandato coletivo como uma afirmação da democracia participativa no Brasil”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 5, n. 13, 2021.

PINHEIRO-MACHADO, R.; SCALCO, L. M. “Da esperança ao ódio: a juventude periférica bolsonarista”. In: GALLEGO, E. S. O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Editora Boitempo, 2018.

POGREBINSCHI, T. Latinno Dataset. Berlin: WZB, 2020.

POGREBINSCHI, T.; VENTURA, T. “Mais Participação, Maior Responsividade? As Conferências Nacionais de Políticas Públicas e a Qualidade da Democracia no Brasil”. Dados - Revista de Ciências Sociais, vol. 60, n. 1, 2017.

RANCIÈRE, J. Ainda se pode falar de democracia? Lisboa: KKYM, 2014.

RANCIÈRE, J. O desentendimento: política e filosofia. São Paulo: Editora 34, 2018.

SAUSSURE, F. Curso de linguística geral. São Paulo: Editora Cultrix, 2006

SCHMITT, C. O conceito do político. Lisboa: Editora Edições 70, 2015.

SILVA, F. P. Democracias errantes: reflexões sobre experiências participativas na América Latina. Rio de Janeiro: Editora Ponteio, 2015.

WILLIAMS, J. Pós-estruturalismo. Petrópolis: Editora Vozes, 2013.

WITTGENSTEIN, L. Tratado lógico-filosófico e Investigações filosóficas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2015.