A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA NO CINEMA DE MICHAEL HANEKE E SUAS IMPLICAÇÕES SOCIOJURÍDICAS
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Resumen
Como produto cultural, o cinema pode tanto se render ao zeitgeist, produzindo obras voltadas ao consumo acrítico, como questioná-lo por meio de filmes analíticos da condição humana. O cinema de Michael Haneke se insere na segunda leva, pois, ao evitar recursos tradicionais, como a explicação clara dos eventos, a trilha sonora emotiva ou a lógica da resolução, o diretor propõe uma experiência que força o público a lidar com a tensão e o vazio, impedindo o consumo passivo das imagens. Assim, a partir da forma pela qual o espectador é inserido nesta dinâmica, este texto tem por objetivo investigar como a violência simbólica é representada no cinema de Michael Haneke. Quanto à metodologia, a pesquisa, de perfil exploratório e abordagem qualitativa, se utiliza do método da revisão bibliográfica para desnudar interpretações sociais e jurídicas acerca de cinco obras do diretor, levantadas por meio de amostragem representativa de sua filmografia, quais sejam: O Sétimo Continente (1989), O Vídeo de Benny (1992), Violência Gratuita (1997), Caché (2005) e A Fita Branca (2009). Os resultados mostram que Haneke transforma o cinema em espaço de reflexão ética, desestabilizando o olhar e revelando como certas violências são estruturais, silenciosas e constantemente reproduzidas. Conclui-se que, ao expor a relação entre quem filma, o que é filmado e quem assiste, sua obra aponta para a necessidade de rever o papel das imagens na construção do senso comum, exigindo do espectador uma postura reativa, sob pena de ser revelada uma conivência misantrópica deste com o atual estado de coisas.
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