GEOGRAFIAS DA EXCLUSÃO: A RACIALIZAÇÃO DA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
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Resumo
O presente estudo analisa o racismo ambiental como vetor estruturante da produção racializada do espaço urbano no Brasil, evidenciando como a cor da pele condiciona o acesso a direitos territoriais, ambientais e urbanos. Com base em revisão bibliográfica crítica e fundamentação teórico-conceitual interseccional, o estudo revela que a ausência de políticas públicas específicas, a omissão do Estado e a seletividade das ações institucionais produzem geografias da exclusão, nas quais populações negras são desproporcionalmente expostas a riscos socioambientais. A pesquisa adota abordagem qualitativa, método dedutivo e natureza exploratória e descritiva quanto aos fins, articulando análise documental e hermenêutica geográfica como instrumento interpretativo. O texto demonstra que o racismo ambiental não constitui um efeito colateral das políticas urbanas, mas sim um mecanismo que estrutura a cidade como território de desigualdades racializadas. São mapeados marcos legais, práticas institucionais e dinâmicas territoriais que evidenciam a íntima relação entre raça, espaço e política pública, revelando que, sem justiça racial, não há justiça ambiental nem efetivação do direito à cidade. Conclui-se que o racismo ambiental opera como engrenagem da desigualdade urbana, relegando populações negras a territórios marcados pela precariedade e pelo risco. A análise evidencia que a justiça ambiental requer, de forma indissociável, o reconhecimento da centralidade da justiça racial, a valorização dos saberes e práticas das comunidades negras e o reconhecimento dos territórios periféricos como espaços legítimos de disputa política. Defende-se, por fim, a urgência de uma abordagem interseccional no planejamento urbano e ambiental, capaz de romper com as lógicas coloniais e racializadas que moldam as cidades brasileiras.
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