A GESTÃO FISCAL NO BRASIL E OS AVANÇOS DA ESTRUTURA DE DESPESAS DE MÉDIO PRAZO

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

Valdemir da Silva
Kleber José dos Santos
Diego Rodrigues Boente

Resumo

A ausência de estruturas fiscais que incorporem uma perspectiva de médio prazo tem comprometido a eficácia da política fiscal no Brasil, dificultando a articulação entre planejamento orçamentário estratégico e execução anual. Este estudo tem como objetivo analisar a trajetória da gestão fiscal do governo federal entre 2000 e 2023 à luz dos princípios e diretrizes que caracterizam os Quadros de Despesas de Médio Prazo (QDMPs), especialmente diante do novo arcabouço fiscal instituído pela Lei Complementar nº 200/2023. O método adotado é exploratório-descritivo com abordagem qualitativo-quantitativa. O procedimento de levantamento baseou-se em dados secundários extraídos de documentos legais, relatórios fiscais e bases estatísticas oficiais. Para a análise, foram utilizadas duas técnicas principais: (i) análise documental de conteúdo aplicada às normativas fiscais, e (ii) análise de séries temporais dos principais indicadores fiscais.  Os resultados revelam que a condução da gestão fiscal no Brasil, entre 2000 e 2023, permaneceu ancorada em práticas de curto prazo, marcadas por rigidez institucional e ausência de previsibilidade intertemporal. A análise demonstrou que, embora tenham ocorrido avanços normativos, como a promulgação da Lei Complementar nº 200/2023, o país ainda não consolidou um Quadro de Despesas de Médio Prazo funcional. Conclui-se que a efetividade do novo regime fiscal dependerá da articulação entre regras e planejamento estratégico, sendo imprescindível a institucionalização de mecanismos que promovam disciplina fiscal e integração intertemporal no ciclo orçamentário. A pesquisa contribui ao evidenciar os entraves e as potencialidades da integração entre regras fiscais e estruturas de planejamento, oferecendo subsídios para a formulação de políticas mais realistas e eficientes.

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Como Citar
SILVA, V. da .; SANTOS, K. J. . dos; BOENTE, D. R. . A GESTÃO FISCAL NO BRASIL E OS AVANÇOS DA ESTRUTURA DE DESPESAS DE MÉDIO PRAZO. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 22, n. 65, p. 01–18, 2025. DOI: 10.5281/zenodo.15449502. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/7074. Acesso em: 24 jun. 2025.
Seção
Artigos

Referências

BLANCHARD, O. et al. “Redesigning EU fiscal rules: From rules to standards”. Economic Policy, vol. 36, n. 106, 2021.

BOWEN, G. A. “Document analysis as a qualitative research method”. Qualitative Research Journal, vol. 9, n. 2, 2009.

BRÄNDLE, T.; ELSENER, M. “Do fiscal rules matter? A survey of recent evidence”. Swiss Journal of Economics and Statistics, vol. 160, n. 1, 2024.

BRASIL. Emenda Constitucional n. 95, de 15 de dezembro de 2016. Brasília: Planalto, 2016. Disponível em: . Acesso em 12/08/2024.

BRASIL. Lei Complementar n. 101, de 4 de maio de 2000. Brasília: Planalto, 2000. Disponível em: . Acesso em 15/10/2024.

BRASIL. Lei Complementar n. 200, de 30 de agosto de 2023. Brasília: Planalto, 2000. Disponível em: Disponível em: . Acesso em: 05/05/2025.

CARRANZA-UGARTE, L.; DÍAZ-SAAVEDRA, J.; GALDÓN-SÁNCHEZ, J. “Rethinking fiscal rules”. Journal of Comparative Economics, vol. 51, n. 3, 2023.

CREEL, J. et al. “A stringent necessity: Addressing fiscal bubbles with fiscal rules in Central and Eastern Europe”. Post-Communist Economies, vol. 37, n. 1, 2025.

FLICK, U. An introduction to qualitative research. London: SAGE, 2018.

GADELHA, S. R. B.; ANDRADE, B. B.; FIGUEREDO, W. W. L. XII Prêmio SOF de monografias, 1º lugar: A importância dos marcos de médio prazo para o planejamento fiscal no Brasil: instrumentos orçamentários para um novo regime fiscal. Brasília: ENAP, 2023.

GBOHOUI, W.; MEDAS, P. “Fiscal Rules and Fiscal Councils: Recent Trends and Performance during the COVID-19 Pandemic”. IMF Working Papers, vol. 2022, n. 11, 2022.

IFI - Instituição Fiscal Independente. Relatório de Acompanhamento Fiscal. Brasília: Senado Federal, 2024. Disponível em: . Acesso em 12/08/2024.

JONG, M. “The Evolution of Budgeting Practices”. In: JONG, M. Contemporary Issues and Challenges in Public Financial Management. Suiça: Cham Springer Nature Switzerland, 2025.

LINO, A. F.; AZEVEDO, R. E.; BELOTE, G. S. “The influence of public sector audit digitalisation on local government budget planning: evidence from Brazil”. Journal of Public Budgeting, Accounting and Financial Management, vol. 35, n. 2, 2023.

MAKANYA, N. The politics of budget decision-making in South Africa (Doctoral Thesis in Philosophy). Edinburgh: University of Edinburgh, 2023.

MARTÍ, C. “Performance budgeting and medium-term expenditure frameworks: A comparison in OECD central governments”. Journal of Comparative Policy Analysis: Research and Practice, vol. 21, n. 4, 2019.

MEDAS, P. et al. “The Return to Fiscal Rules”. Staff Discussion Notes, vol. 2022, n. 2, 2022.

MKASIWA, T. A. “Does the MTEF shape annual budgets in a developing country?”. Journal of Accounting in Emerging Economies, vol. 13, n. 2, 2023.

MOREIRA, T. “Public debt, capital stock and economic growth: An analysis of fiscal sustainability in Brazil”. Journal of Economics and International Finance, vol. 5, n. 9, 2013.

NGAO, J. O. The Effect of the Medium Term Expenditure Framework on the Budgetary Process in Kenya (Doctoral Thesis in Business Sciences). Kenya: University of Nairobi. 2014.

NWIADO, D.; DEEKOR, L. N. “Medium Term Expenditure Framework (MTEF): A Panacea for Public Expenditure Management (PEM) In Nigeria?”. Business and Management Studies, vol. 6, n. 4, 2020.

OLIVEIRA, F.; NOBREGA, P.; MAIA, R. “Capacidade institucional e regras fiscais: limites à implementação do orçamento de médio prazo no Brasil”. Revista do Serviço Público, vol. 73, n. 1, 2022.

PIANCASTELLI, M. N.; MENDES, A. C. G.; BARROS, R. D. Implicações do contingenciamento de despesas do Ministério da Saúde para o financiamento federal do Sistema Único de Saúde. Brasília: IPEA, 2016.

RAUDLA, R; DOUGLAS, J. W.; MACCARTHAIGH, M. “Medium-term expenditure frameworks: credible instrument or mirage?”. Public Budgeting and Finance, vol. 42, n. 1, 2022.

RODRIGUES, H.; ALMEIDA, M.; FOSSATI, Rafael. “Orçamento público e planejamento estratégico: análise da articulação entre instrumentos de médio prazo na OCDE e no Brasil”. Revista Brasileira de Planejamento e Orçamento, vol. 9, n. 1, 2024.

SANTOS, L. B.; NUNES, A. “Da governabillidade à governança: como garantir a função do orçamento público?”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 21, n. 61, 2025.

SCHICK, A. “Budgeting for fiscal space”. OECD Journal on Budgeting, vol. 9, n. 2, 2009.

SILVA, C. R. et al. “Práticas de gestão pública em cenário de contingenciamento”. Revista Gestão Pública em Debate, vol. 8, n. 1, 2017.

STN - Secretaria do Tesouro Nacional. Estatísticas fiscais do governo central. Brasília: Ministério da Fazenda, 2024. Disponível em: . Acesso em 12/08/2024

TOLLIN, H. M. “Planejamento Fiscal”. Cadernos de Finanças Públicas, vol. 18, n. 1, 2020.