POR MAIS SENTIPENSAR NA PESQUISA-AÇÃO-PARTICIPATIVA CLÍNICA EM PSICOLOGIA: RUMOS DESCOLONIAIS PARA ALÉM DO ESTUDO DE CASO
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Resumo
“Eu não sou um estudo de caso!”. Nossa história como ciência e profissão, Psicologia, tem apontado um percurso contraditório e muitas vezes normativo/violento diante da produção de cuidado e de conhecimento. A clínica em Psicologia ou Psicologia Clínica possui origens e fundamentos alicerçados na disputa histórica presente nas noções de saúde e de clínica oriundas do campo médico. A soberania eurocêntrica e estadunidense em relação à clínica em Psicologia nos levou a uma perspectiva hegemônica adaptacionista, classificatória, hierarquizante e centrada num saber especializado mimetizado na figura da profissional/pesquisadora; no caso, da psicóloga. O artigo em questão, assim, é um ensaio descolonizante da concepção de pesquisa em Clínica em Psicologia, em especial, ao chamado recurso técnico-teórico, nomeado de estudo de caso. A partir de uma análise histórica sobre a própria noção de clínica, de pesquisa clínica e de estudo de caso, propõe-se um mergulho pela referência latino-americana na pesquisa-ação-participativa, a partir da ideia de sentipensar como horizonte ético, político, ontológico, epistemológico e metodológico para este fazer-saber, compreendido no bojo da noção de saber/cuidar – cuidar/saber, como um rumo do processo de pesquisa sentipensante em Psicologia. Para tanto, compreendemos como tarefa descolonizante da pesquisa clínica em Psicologia um reposicionamento da noção de estudo de caso, considerando-o um ato desuniversalizante, recorrendo às tarefas de uma Psicologia crítica como a Psicologia Socio Histórica, potencializando a memória histórica, a desideologização e a construção de uma identidade pessoal e coletiva como caminho, tendo como autores da pesquisa-cuidado novos agentes do processo que não apenas a pessoa que é nomeada como pesquisadora/psicóloga, rompendo com a ideia de que o estudo de caso ou a pesquisa clínica é sobre um Outro, superando a tradicional relação instrumental e pragmática posta classicamente na realização do estudo de caso clínico.
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