AUTOCOMPAIXÃO E DISLEXIA EM UNIVERSITÁRIOS: HISTÓRIA DE LEITURA, AUTOEFICÁCIA E ANSIEDADE
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Resumo
As dificuldades de leitura geralmente levam a fortes julgamentos autocríticos e o sentimento de culpa em estudantes universitários que apresentam sinais de dislexia em sala de aula. Com efeito, estes alunos podem apresentar baixa autoeficácia na formação superior e sintomas de ansiedade. Nesse contexto, a autocompaixão desempenha um papel importante na promoção de maior autoeficácia e menor ansiedade, o que pode resultar em uma maior aceitação e gerenciamento das dificuldades de leitura oriundas da dislexia. A fim de contribuir com o desenvolvimento de pesquisas sobre o tema, bem como planos de ação em universidades, este estudo teve como objetivo investigar as relações entre as facetas da autocompaixão, história de leitura, fatores da autoeficácia na formação superior e ansiedade em uma amostra de estudantes universitários com suspeita de dislexia. Tratou-se de um estudo inferencial-descritivo de corte transversal e abordagem quantitativa, com uma amostra de 303 universitários, sendo a média de idade de 21,4 anos e 64% do sexo feminino. Os participantes foram avaliados através de um questionário on-line, abrangendo informações sociodemográficas, pontuações das Escalas de Autocompaixão e de Autoeficácia na Formação Superior, além da subescala de ansiedade da Escala Hospitalar de Ansiedade e Depressão, e respostas de um questionário de História de Leitura. As hipóteses foram testadas por estatísticas descritivas e os testes Mann-Whitney, d de Cohen, Eta Squared, Tau-b de Kendall, Análise de Componentes Principais e Regressões Lineares Múltiplas. Como resultado, quatro das cinco hipóteses se confirmaram e outra parcialmente. Destaca-se que os universitários apresentaram risco para dislexia no grau leve e ansiedade. Houve diferenças entre a presença de autocompaixão, história de leitura e ansiedade de acordo com o sexo. Foram obtidas correlações significativas entre autocompaixão e autoeficácia na formação superior – positivas fracas – e entre autocompaixão, história de leitura e ansiedade – negativas moderadas e fracas. A análise de regressão múltipla mostrou que autocompaixão pode ser preditora de história de leitura, autoeficácia na formação superior e ansiedade. Este estudo revelou a importância do construto positivo autocompaixão em prol do bem-estar mental de alunos suspeitos de dislexia. Conclui-se que é preciso promover o cultivo da autocompaixão na universidade. Tal olhar pode contribuir com conteúdos diferenciados para a proposição de ações, intervenções e políticas públicas de atendimento a universitários suspeitos de dislexia.
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