A INVISIBILIZAÇÃO COMO EXPRESSÃO DO RACISMO INSTITUCIONAL: QUEM SÃO OS USUÁRIOS E USUÁRIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA?

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Andréia da Cruz Oliveira
Lissandra da França Ramos
João Soares Pena

Resumo

O presente ensaio objetiva discutir a importância da coleta de dados sobre raça/cor no Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), tendo em vista que esta não é prática difundida na instituição. Observa-se que as informações sobre o perfil racial das pessoas que buscam os serviços do MPBA, se existem, não são de fácil acesso para a população em geral e pesquisadores, o que dificulta a identificação e análise de como pessoas de diferentes perfis étnico-raciais acessam o Sistema de Justiça. A partir de uma revisão de literatura sobre racismo institucional e das legislações de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, depreende-se que o não preenchimento do quesito raça/cor no sistema de cadastramento interno do MPBA impossibilita a geração de uma base de dados de qualidade, o que inviabiliza uma análise mais criteriosa acerca da efetividade das políticas públicas destinadas às populações vulnerabilizadas. A existência de dados sobre o perfil racial dos usuários da instituição é importante para avaliar os serviços oferecidos, identificar os maiores obstáculos enfrentados pela população, bem como subsidiar os movimentos sociais para realizar o controle social das políticas públicas.

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Como Citar
OLIVEIRA, A. da C. .; RAMOS, L. da F. .; PENA, J. S. . A INVISIBILIZAÇÃO COMO EXPRESSÃO DO RACISMO INSTITUCIONAL: QUEM SÃO OS USUÁRIOS E USUÁRIAS DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DA BAHIA?. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 14, n. 40, p. 285–297, 2023. DOI: 10.5281/zenodo.7813360. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/1149. Acesso em: 3 jul. 2024.
Seção
Ensaios

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