RECRUTAMENTO POLÍTICO NO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO: UMA ANÁLISE PROSOPOGRÁFICA DAS NOMEAÇÕES (1990–2022)

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

Francisco Robert Bandeira Gomes da Silva
Alexandre Almeida Barbalho

Resumo

O presente artigo analisa o processo de nomeação dos ministros do Tribunal de Contas da União (TCU) entre 1990 e 2022, tomando como referência a tensão entre critérios técnicos e políticos que estruturam o recrutamento das elites institucionais no Brasil. O objetivo central é investigar até que ponto a experiência política prévia influencia a probabilidade de indicação em detrimento de perfis técnicos. Para tanto, utilizou-se o método dedutivo, fundamentado em revisão bibliográfica sobre elites e recrutamento político, além de procedimentos de prosopografia, que permitiram a coleta e sistematização de dados primários e secundários sobre as trajetórias dos vinte ministros empossados no período. A análise revelou que, embora a Constituição de 1988 preveja vagas destinadas a auditores e membros do Ministério Público de Contas, assegurando certa presença técnica, a maioria das nomeações se deu a partir de critérios políticos: 70% das indicações partiram do Congresso Nacional, sendo 85,7% de ministros filiados a partidos no momento da posse e 78,6% vinculados à base governista. O capital técnico, nesse contexto, funciona como requisito formal de legitimação, mas não como critério decisivo. Conclui-se, portanto, que o TCU, embora formalmente concebido como órgão técnico de controle externo, realiza um processo de recrutamento político de seus ministros, reproduzindo as elites parlamentares e governamentais sob a fachada do formalismo jurídico.

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Como Citar
SILVA, F. R. B. G. da; BARBALHO, A. A. RECRUTAMENTO POLÍTICO NO TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO: UMA ANÁLISE PROSOPOGRÁFICA DAS NOMEAÇÕES (1990–2022). Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 23, n. 69, p. 20–46, 2025. DOI: 10.5281/zenodo.17204283. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/7830. Acesso em: 28 out. 2025.
Seção
Artigos

Referências

ALBRECHT, N. “Parties Are Not the Only Patrons: Towards a New Typology of Patronage”. Brazilian Political Science Review, vol. 18, n. 3, 2024.

ALBRECHT, N.; TROIANO, M. “Interview with Barbara Geddes: Bureaucracy and the Functioning of Democratic Institutions”. Revista Agenda Política, vol. 10, n. 2, 2022.

ALMEIDA, F. A nobreza togada: as elites jurídicas e a política da justiça no Brasil (Tese de Doutorado em Ciência Política). São Paulo: USP, 2010.

BARBALHO, A. “Como pensar sociologicamente o direito: uma contribuição a partir de Pierre Bourdieu e da prosopografia”. In: CASTRO, F.; MAIA, M. (orgs.). Observatório de Práticas Sociojurídicas: programas de pesquisa para o campo jurídico profissional. Curitiba: Editora CRV, 2021.

BOURDIEU, P. La nobleza de estado: educación de elite y esperítu de cuerpo. Buenos Aires: Siglo Veintiuno, 2013.

BOURDIEU, P. O Poder Simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

BOURDIEU, P. Sobre o Estado: Curso no Collège de France (1989-1992). Lisboa: Edições 70, 2014.

BRASIL. Ministros do Tribunal de Contas da União: dados biográficos: 1893-2017. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2017. Disponível em: . Acesso em: 12/06/2025.

BRASIL. Regimento Interno do Tribunal de Contas da União. Brasília: Tribunal de Contas da União, 2021. Disponível em: . Acesso em: 12/06/2025.

BUKODI, E.; GOLDTHORPE, J. H.; STEINBERG, I. “Continuing complexity: The university careers of a scientific elite in relation to their class origins and schooling”. The British Journal of Sociology, vol. 74, n. 4, 2023.

BULST, N. “Sobre o objeto e o método da prosopografia”. Politeia, vol. 5, n. 1, 2005.

CABRAL, F. “O Tribunal de Contas da União é um órgão político?” Revista de Investigações Constitucionais, vol. 7, 2020.

CHARLE, C. “A prosopografia ou biografia coletiva: balanço e perspectiva”. In: HEINZ, F. (org.). Por outra história das elites. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2006.

DEZALAY, Y. “Os usos internacionais do conceito de campo jurídico”. Plural, vol. 26, n. 2, 2019.

DEZALAY, Y; MADSEN, M.-R. “Espaces de pouvoir nationaux, espaces de pouvoir internationaux”. In: D' COHEN, A. et al. Nouveau manuel de science politique Troisième édition revue et augmentée. Paris: La Découverte. Repères, 2024.

ENGELMANN, F. “Em torno do poder: ciência e instituições políticas”. In: SEIDL, E.; GRILL, I. (orgs.). As ciências sociais e os espaços da política no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

FONSECA, T. “Entre riscos e ameaças: independência e controle do Tribunal de Contas da União na Assembleia Constituinte de 1988”. Opinião Pública, vol. 26, 2020.

GEDDES, B. Politician’s Dilemma: Building State Capacity in Latin America. Berkeley: University of California Press, 2019.

GRILL, I.; REIS, E. “Dos campos aos domínios das “elites” no Brasil”. Revista Tomo, n. 32, 2018.

HEINZ, F. “Como se escolhem os escolhidos?: nota metodológica sobre a definição do grupo-alvo em prosopografia”. Estudos Históricos, vol. 37, 2024.

HEINZ, F.; CODATO, A. “A prosopografia explicada para cientistas políticos”. In: PERISSINOTTO, R.; CODATO, A. (orgs.). Como estudar elites. Curitiba: Editora UFPR, 2015.

PEREIRA, F. Famílias e poder nos tribunais de contas: uma sociologia política dos herdeiros das classes dominantes (Tese de Doutorado em Sociologia). Curitiba: UFPR, 2020.

PRAÇA, S. et al. “Patronage Appointments in Brazil, 2011-2019”. In: PANIZZA, F. et al. (orgs.). The Politics of Patronage Appointments in Latin American Central Administrations. Pittsburgh: University of Pittsburgh Press, 2022.

RAMOS, A. Administração e estratégia do desenvolvimento. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1966.

SAMPAIO, J. C.; DETTMAM, D. “Antonin Scalia e os limites do ativismo judicial: uma análise do textualismo originalista”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 23, n. 68, 2025.

SANTOS, A.; ROS, L. “Caminhos que levam à corte: carreiras e padrões de recrutamento dos ministros dos órgãos de cúpula do Poder Judiciário Brasileiro (1829-2006)”. Revista de Sociologia e Política, vol. 16, n. 30, 2008.

SEIDL, E. “Estudar os poderosos: a sociologia do poder e das elites”. In: GRILL, I; SEIDL, E (orgs.). As ciências sociais e os espaços da política no Brasil. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

SENADO FEDERAL. Tribunal de Contas da União – TCU: Últimas indicações aprovadas para cada vaga / Histórico (a partir de 1988). Brasília: Senado Federal, 2024. Disponível em: . Acesso em: 09/09/2025.

SIRA-SANTANA, G. “El necesario y complejo equilibrio entre los diversos sistemas de selección de funcionarios públicos”. Documentación Administrativa, n. 12, 2024.

SPECK, B. Inovação e rotina no Tribunal de Contas da União. São Paulo: Fundação Konrad Adenauer, 2000.

STONE, L. “Prosopografia”. Revista de Sociologia e Política, vol. 19, n. 39, 2011.

TORAL, G. “How patronage delivers: Political appointments, bureaucratic accountability, and service delivery in Brazil”. American Journal of Political Science, vol. 68, n. 2, 2024.

VEIT, S.; SEYFRIED, M. “How do Supreme Audit Institutions reflect societal change? A Prosopographical Analysis of Top Civil Servants in the German States (1945–2022)”. dms–der moderne staat–Zeitschrift für Public Policy, Recht und Management, vol. 16, n. 2, 2024.