O PAPEL DAS CORTES CONSTITUCIONAIS NO ENFRENTAMENTO AOS ATAQUES E NA DEFESA DA DEMOCRACIA

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

Marcelo de Oliveira Elias
Paula Zambelli Salgado Brasil

Resumo

As democracias em todo o mundo estão tensionadas, levadas ao limite. O cenário de incertezas gera uma “tempestade” quase que perfeita para o aparecimento de líderes populistas e autoritários, os quais, sabedores das receitas antidemocráticas experimentadas em outros locais, utilizam do próprio sistema democrático para se elegerem como chefe do executivo e, após empossados, trabalham de maneira multiforme para erodir as bases da democracia e se manterem ou aumentarem seus poderes. Por meio de ataques às instituições democráticas, às subjetividades, à liberdade de imprensa, e por discursos de ódio que se espalham por redes sociais e mentiras (fakenews) sobre as mais variadas questões - inclusive sobre as formas de votação – os líderes autocratas minam as instituições fundantes da democracia. O objetivo deste estudo é mapear ações utilizadas por líderes autoritários e populistas para controle ou manipulação das Cortes Constitucionais, alvos frequentes de ataque, justamente pelo papel que representam como guardiãs da constituição. Tais ataques, por vezes, são exitosos, ou não, a depender do grau do resiliência das Cortes, da sociedade civil e dos operadores do Direito. Ao identificarmos as dinâmicas que lhe são características, contribui-se para o debate de quais meios seriam necessários para resolver ou mitigar os impasses causados, de forma a promover um realinhamento político para a transformação social. Assim, por meio de metodologia hipotético-dedutiva e da técnica de revisão bibliográfica sobre as ações intentadas pelo Executivo e contrapô-las ao papel das Cortes Constitucionais no neoconstitucionalismo, conclui-se que os fenômenos examinados representam anomalias institucionais que, por sua vez, contribuem para a quebra da ordem legal e afetam a tradicional independência dos poderes do Estado, trazendo consequências para toda a sociedade.

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Como Citar
ELIAS, M. de O. .; BRASIL, P. Z. S. O PAPEL DAS CORTES CONSTITUCIONAIS NO ENFRENTAMENTO AOS ATAQUES E NA DEFESA DA DEMOCRACIA. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 17, n. 50, p. 693–715, 2024. DOI: 10.5281/zenodo.10783890. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/3476. Acesso em: 27 abr. 2024.
Seção
Ensaios
Biografia do Autor

Marcelo de Oliveira Elias, Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP)

A

Referências

ACUNHA, F. J. G.; ARAFA, M. A.; BENVINDO, J. Z. “The Brazilian Constitution of 1988 and its ancient ghosts: comparison, history and the ever-present need to fight authoritarianism”. Revista de Investigações Constitucionais, vol. 5, n. 3, 2018.

ALBERTAZZI, D.; MUELLER S. “Populism and Liberal Democracy: Populists in Government in Austria, Italy, Poland and Switzerland”. Government and Opposition, vol. 48 n. 3, 2013.

APPLEBAUM, A. Twilight of democracy: the seductive lure of authoritarianism. New York: Doubleday, 2020

ARATO, A. “Populism, the Courts and Civil Society”. SSRN [2017]. Disponível em: . Acesso em: 20/02/2024.

BACHUR, J. P. “Desinformação política, mídias digitais e democracia: Como e por que as fake news funcionam?” Direito Público, vol. 18, n. 99, 2021.

BARBOZA, E. M. Q.; ROBL FILHO, I. N. “Constitucionalismo Abusivo: Fundamentos Teóricos e Análise da sua Utilização no Brasil Contemporâneo”. Revista Brasileira de Direitos Fundamentais e Justiça, vol. 12, n. 39, 2019.

BARROSO, L. R. “Contramajoritário, Representativo e Iluminista: Os papeis dos tribunais constitucionais nas democracias contemporâneas”. Revista Direito e Práxis, vol. 9, n. 4, 2018.

BARROSO, L. R. “Neoconstitucionalismo e Constitucionalização do Direito: O Triunfo Tardio do Direito Constitucional no Brasil”. Boletim da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, vol. 81, 2005.

BARROSO, L. R. “Populismo, autoritarismo e resistência democrática: as cortes constitucionais no jogo do poder”. Revista Direito e Práxis, vol. 14, n. 3, 2023.

BAUMAN, Z. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2017.

BRASIL. Discurso de Abertura do Semestre proferido pelo Ministro Luís Roberto Barroso. Brasilia: Tribunal Superior Eleitoral, 2021. Disponível em: . Acesso em 04/03/2024.

BRASIL. Petição Cível (241) processo n. 0601958-94.2022.6.00.0000. Relator: Ministro Alexandre de Moraes. Data: 23/11/2023. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2023. Disponível em: . Acesso em: 25/11/ 2023.

CANOTILHO, J. J. G. Estado de Direito. Lisboa: Gradiva Publicações, 1999.

CARBONNEL, M. “El Neoconstitucionalismo: Significado y Niveles de Analysis”. In: CARBONNEL, M.; JARAMILLO, L.G. El canon neoconstitucional. Madrid: Trotta, 2010.

COMANDUCCI, P. “Constitucionalización y neoconstitucionalismo”. In: COMANDUCCI, P.; RUIZ, M. A.; GONZÁLEZ, D. L. Positivismo jurídico y neoconstitucionalismo. Madrid: Fundación Coloquio Jurídico Europeo, 2009.

ČUROŠ, P. “Attack or reform: Systemic interventions in the judiciary in Hungary, Poland, and Slovakia”. Oñati Socio-Legal Series, vol. 13, n. 2, 2023.

FERRAJOLI, L. Poderes Selvagens: a crise da democracia italiana. São Paulo: Editora Saraiva, 2014.

FRASER, N. “Do neoliberalismo progressista a Trump – e além”. Revista Política e Sociedade, vol. 17 n. 40, 2018.

GERRING, J.; KNUTSEN, C. H.; BERGE, J. “Does democracy matters?” Rev. Political Sci, n. 25, 2022.

HUNGARIAN HELSINKI COMMITTEE. “Independence of the Judiciary under attack in Hungary. Statement by Hungarian Helsinki Committee”. OSCE [2018]. Disponível em: . Acesso em: 20/02/2024.

LANDAU, D.; DIXON R. “Abusive Judicial Review: Courts against Democracy”. UC Davis Law Review, vol. 53, n. 3, 2020.

LANDEMORRE, H. “A democracia representativa é realmente democrática? - Entrevista com Bernard Manin e Nadia Urbinati”. Dois Pontos, vol. 13, n. 2, 2016.

LEVITSKY, S.; ZIBLATT, D. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2018.

MANIN, B. “As Metamorfoses do Governo Representativo”. Revista Brasileira de Ciências Sociais, vol. 29, 1995.

MOUNK, Y. O povo contra a democracia: Por que nossa liberdade corre perigo e como salvá-la? São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2019.

MÜLLER, F. Quem é o povo?: A questão fundamental da democracia. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2013.

PRENDERGAST, D. “The judicial role in protecting democracy from populism”. German Law Journal, vol. 20, n. 2, 2019.

PRZEWORSKI, A. Crises da democracia. Rio de Janeiro: Editora Zahar, 2020.

PULIDO, C. B. El neoconstitucionalismo y la normatividad del derecho. Bogotá: Universidad Externado de Colombia, 2009.

SANDEL, M. A tirania do mérito: o que aconteceu com o bem comum? Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira. 2020.

SARMENTO, D. “O neoconstitucionalismo no Brasil: riscos e possibilidades”. Revista Brasileira de Estudos Constitucionais, vol. 3, n. 9, 2009.

SARMENTO, D. “Trajetória Histórica e Dilema Contemporâneos”. In: LEITE G. S.; SARLET, I. W. Jurisdição constitucional, democracia e direitos fundamentais. Salvador: Editora JusPodivm, 2012.

SERRANO, P. E. A. P.; MAGANE, R. P. “A governabilidade de exceção permanente e a política neoliberal de gestão dos indesejáveis no Brasil”. Revista de Investigações Constitucionais, vol. 7, n. 2, 2020.

URBINATI, N. “A democracia e o perigo dos populismos”. Portal Unisinos [2023]. Disponível em: . Acesso em 18/02/2024.

VILHENA, O. “A Constituição como reserva de justiça”. Revista de Cultura e Política, vol. 42, 1997.

WEISS, S. “Rule of Law in Poland and Hungary: “Our fundamental values are under attack”. Bertelsmann Stiftung [2017]. Disponível em: . Acesso em: 20/02/2024.