MEDICALIZAÇÃO DO PARTO: REFLEXÃO ACERCA DO (BIO)PODER SOBRE O CORPO FEMININO
##plugins.themes.bootstrap3.article.main##
Resumo
Por muitos anos, as mulheres foram assistidas em seu parto por outras mulheres, que as acompanhavam no pós-parto e nos cuidados com o recém-nascido. Com o nascimento da medicina moderna, o cenário parturitivo, antes realizado de forma domiciliar por parteiras, passou a ser controlado pelo Estado e a ser realizado por médicos em instituições com alto nível de intervenção. O médico passa a ser o centro da atenção, e a mulher torna-se sujeito passivo, sem voz, e sem poder de decisão sobre seu corpo. Este ensaio tem como objetivo refletir sobre a medicalização do parto a partir da concepção de biopoder proposta por Michel Foucault (2010), para quem o biopoder se constitui em um governo da vida para criar corpos dóceis e economicamente ativos. Para tanto, foram utilizadas estratégias de pesquisas nas seguintes bases de dados voltadas à medicalização do parto: LILACS, Web of Science, Bdenf, SCOPUS e PubMed/MedLine. Outros autores como Costa (2012), Tempesta et al (2021), Rohden (2000), Mauadie (2018), Velho (2019) também nos auxiliam em nossa reflexão. Como resultado, observa-se que a ação do biopoder sobre o corpo da mulher converte-se na medicalização do parto, que visa a controlar as taxas de morbimortalidade materna e neonatal.
##plugins.themes.bootstrap3.article.details##
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Direitos autorais (c) .
Esta obra está licenciada sob uma licença Creative Commons Atribuição 4.0 Internacional.
Referências
BRASIL. Humanização do parto: humanização no pré-natal e nascimento. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Disponível em: . Acesso em: 23/04/2023.
COSTA, A. M. “Política de Saúde Integral da Mulher e Direitos Sexuais e Reprodutivos”. In: GIOVANELLA, L. et al. Políticas e sistemas de saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz, 2012.
DAVIS-FLOYD, R. “O tecnocrático, humanístico e os paradigmas holísticos do parto”. Jornal Internacional de Ginecologia e Obstetrícia, vol. 1, 2001.
DEL PRIORI, M. Ao Sul do Corpo: condição feminina, maternidades e mentalidades no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: Editora José Olímpio, 1993.
FEDERICI, S. Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Editora Elefante, 2017.
FOUCAULT, M. “Aula de 17 de março de 1976”. In: FOUCAULT, M. Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2005.
FOUCAULT, M. História da sexualidade: A vontade de saber. São Paulo: Editora Graal, 2010.
FOUCAULT, M. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Editora Graal, 1979.
MAUADIE, R. A. O poder decisório da mulher no parto: as práticas discursivas dos profissionais e sua relação com a formação em obstetrícia (Dissertação de Mestrado em Enfermagem). Rio de Janeiro: UERJ, 2018.
MENEZES, F. R. et al. “O olhar de residentes em Enfermagem Obstétrica para o contexto da violência obstétrica nas instituições”. Interface, vol. 24, 2020.
MINAYO, M. C. S.; GUALHANO, L. “Existe solução para o excesso de cesarianas no Brasil?” SciELO em Perspectiva [2022]. Disponível em: . Acesso em: 23/04/2023.
NAGAHAMA, E. E. I.; SANTIAGO, S. M. “A institucionalização médica do parto no Brasil”. Ciencia e Saúde Coletiva, vol. 10, n. 3, 2005.
NICIDA, L. R. A. et al. “Medicalização do parto: os sentidos atribuídos pela literatura de assistência ao parto no Brasil”. Ciência e Saúde Coletiva, vol. 25, n. 11, 2020.
ROHDEN, F. Uma ciência da diferença: sexo, contracepção e natalidade na medicina da mulher (Tese de Doutorado em Medicina Social). Rio de Janeiro: UFRJ, 2000.
SALA, V. V. V. “La enfermedad normal. Aspectos históricos y políticos de la medicalización del parto”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, n. 34, 2020.
TEMPESTA, G. A.; FRANÇA, R. L. “Nomeando o inominável. A problematização da violência obstétrica e o delineamento de uma pedagogia reprodutiva contra-hegemônica”. Horizontes Antropologicos, vol. 27, n. 61, 2021.
VELHO, M. B. et al. “Modelos de assistência obstétrica na Região Sul do Brasil e fatores associados”. Cadernos de Saúde Pública, vol. 25, n. 3, 2019.
WARMLING, C. M. et al. “Práticas sociais de medicalização & humanização no cuidado de mulheres na gestação”. Cadernos de Saúde Pública, vol. 34, n. 4, 2018.
ZOLA, I. “Medicine as an institution of social control”. The Sociological Review, vol. 20, n. 4, 1972.