VIVER COM DOR CRÔNICA NA PERIFERIA DE FORTALEZA: UM ESTUDO FENOMENOLÓGICO COM MULHERES

##plugins.themes.bootstrap3.article.main##

Marianna Facó Soares
Kristopherson Augusto Lustosa
Lucas Guimarães Bloc

Resumo

A dor crônica pode ser compreendida um fenômeno complexo, de natureza multidimensional, que envolve componentes biológicos, psicológicos e sociais. Entre as populações mais afetadas, destacam-se as mulheres, especialmente aquelas que vivem em contextos de vulnerabilidade social, onde as condições de cuidado são restritas e o sofrimento tende a ser invisibilizado. Questiona-se nesse estudo como a experiência de dor crônica é vivida por mulheres residentes em contexto periférico, considerando seus significados, impactos relacionais e possibilidades de cuidado. O objetivo do artigo foi compreender a experiência de dor crônica vivida por mulheres da Comunidade do Caça e Pesca, em Fortaleza, a partir de uma abordagem fenomenológica crítica. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, fundamentada no método fenomenológico crítico, associada a procedimentos etnográficos. Foram realizadas entrevistas fenomenológicas com oito mulheres participantes de um projeto comunitário de cuidado em dor crônica e examinados quinze diários de campo produzidos em grupos de escuta psicológica. Os dados foram submetidos à análise fenomenológica crítica, orientada pela compreensão dos significados emergentes na experiência vivida e seus atravessamentos sociais, culturais e afetivos. Os resultados indicaram que a dor crônica é marcada por sentimentos de raiva, aprisionamento e solidão, afetando a percepção de si e as relações interpessoais. A religiosidade aparece como elemento de sustentação e de conforto, enquanto o tratamento médico foi frequentemente caracterizado pela negligência e pela ausência de políticas públicas adequadas. Conclui-se que a experiência de dor crônica, para essas mulheres, é simultaneamente física e existencial, refletindo desigualdades de gênero e de acesso ao cuidado. Os achados evidenciam a necessidade de políticas interdisciplinares que ampliem o reconhecimento e o acolhimento da dor crônica como fenômeno de saúde pública.

##plugins.themes.bootstrap3.article.details##

Como Citar
SOARES, M. F. .; LUSTOSA, . K. A. .; BLOC, . L. G. . VIVER COM DOR CRÔNICA NA PERIFERIA DE FORTALEZA: UM ESTUDO FENOMENOLÓGICO COM MULHERES. Boletim de Conjuntura (BOCA), Boa Vista, v. 24, n. 71, p. 33–57, 2025. DOI: 10.5281/zenodo.17624771. Disponível em: https://revista.ioles.com.br/boca/index.php/revista/article/view/8106. Acesso em: 21 nov. 2025.
Seção
Artigos

Referências

AGUIAR, D. P. et al. “Prevalence of chronic pain in Brazil: systematic review”. Brazilian Journal Of Pain, vol. 4, n. 3, 2021.

ALVES, M. E. S. et al. “Spirituality and religiosity in hospitalized patients with chronic pain”. Research, Society and Development, vol. 11, n. 13, 2022.

BÄCKRYD, E. “Dor crônica e tempo – uma análise teórica”. Journal of Pain Research, vol. 16, 2023.

BARKE, A. et al. “Classification of chronic pain for the International Classification of Diseases (ICD-11): results of the 2017 international World Health Organization field testing: Results of the 2017 international World Health Organization field testing”. Pain, vol. 163, n. 2, 2022.

BLOC, L. et al. Virtual clinical listening groups for psychological intervention with university students in the COVID-19 pandemic. Frontiers in Psychiatry, vol. 13, 2022.

BRASIL. Censo Demográfico 2010: resultados gerais da amostra. Rio de Janeiro: IBGE, 2011. Disponível em: . Acesso em: 06/08/2025.

CARDOZO, R. M. et al. “Noção de corpo sob a ótica dos fisioterapeutas: uma pesquisa fenomenológica crítica”. Saúde e Sociedade, vol. 31, 2022.

CASALE, R. et al. “Pain in Women: A Perspective Review on a Relevant Clinical Issue that Deserves Prioritization”. Pain Therapy, vol. 10, 2021.

CLAUW, D. J. et al. “Reframing chronic pain as a disease, not a symptom: rationale and implications for pain management”. Postgraduate Medicine, vol. 131, n. 3, 2019.

COHEN, S. P. et al. “Chronic pain: an update on burden, best practices, and new advances”. Lancet, vol. 397, n. 10289, 2021.

GOMES, M. V. et al. “‘Waiting for a miracle’: Spirituality/Religiosity in coping with sickle cell disease”. Revista Brasileira de Enfermagem, vol. 72, n. 6, 2019.

GREENSPAN, J. D. et al. “Studying sex and gender differences in pain and analgesia: a consensus report”. Pain, vol. 132, n. 1, 2007.

GRÜNY, C. “Zwischen Aspirin und Algodizee: zum Problemfeld Schmerz und Sinn”. Psychologie und Gesellschaftskritik, vol. 33, n. 3, 2009.

GUVEN KOSE, S. et al. “Chronic Pain: An Update of Clinical Practices and Advances in Chronic Pain Management”. The Eurasian Journal of Medicine, vol. 54, n. 1, 2022.

HAN, B. C. Sociedade Paliativa: a dor hoje. Petrópolis: Editora Vozes, 2021.

HEALTHY WOMEN. “Science, Innovation and Technology Summit: Chronic Pain in Women—Focus on Treatment, Management and Barriers”. Healthy Women [2020]. Disponível em: . Acesso em: 23/09/2025.

HØFFDING, S. et al. “Can we trust the phenomenological interview? Metaphysical, epistemological, and methodological objections”. Phenomenology and the Cognitive Sciences, vol. 21, n. 1, 2022.

IASP - International Association for the Study of Pain. Declaration of Montreal Declaration that Access to Pain Management Is a Fundamental Human Right. Montreal: IASP, 2010. Disponível em: . Acesso em: 12/04/2025.

JESUS, L. P. Dor Crônica: uma visão fenomenológica. In: TAMELINI, M.; MESSAS, G. (eds.). Fundamentos de Clínica Fenomenológica. São Paulo: Manole, 2022.

KANEMATSU, J. S. et al. “Impacto da dor na qualidade de vida do paciente com dor crônica”. Revista de Medicina, vol. 101, n. 3, 2022

KROEF, R. F. S. et al. “Diário de Campo e a Relação do(a) Pesquisador(a) com o Campo-Tema na Pesquisa-Intervenção”. Estudos e Pesquisas em Psicologia, vol. 20, n. 2, 2020.

LERESCHE, L. “Defining gender disparities in pain management”. Clinical Orthopaedics and Related Research, vol. 469, n. 7, p. 1871-1877, 2011.

LISBOA, L. V. et al. “O alívio da dor como forma de legitimação dos direitos humanos”. Revista Dor, vol. 17, n. 1, 2016.

MATTOS, C. L. G. “A abordagem etnográfica na investigação científica”. In: MATTOS, C. L. G. Etnografia e educação: conceitos e usos. João Pessoa: Editora da UEPB, 2011.

MELO, A. K. et al. “O método fenomenológico em pesquisas de estudo de caso clínico”. In: COSTA, A. P. et al. (eds.). Atas do 7o Congresso Ibero-Americano em Investigação Qualitativa: Investigação Qualitativa na Saúde. Aveiro: Ludomedia, 2018.

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da Percepção. São Paulo: Editora WMF, 2018.

MIGLIO, N.; STANIER, J. “Beyond pain scales: A critical phenomenology of the expression of pain”. Frontiers in Pain Research, vol. 3, 2022.

MONTEIRO, V. et al. “What is it like to be in alcohol addiction recovery? A dialectical phenomenological analysis”. Psychopathology, vol. 57, n. 5, 2024.

MOREIRA, V. “O método fenomenológico de Merleau-Ponty como ferramenta crítica na pesquisa em psicopatologia”. Psicologia: Reflexão e Crítica, vol. 17, n. 3, 2004.

MOREIRA, V.; BLOC, L. Fenomenologia Clínica. Rio de Janeiro: Edições IFEN, 2021.

MUCHOWSKI, K. “Chronic Pain Syndromes in Women”. Primary Care, vol. 52, n. 2, 2025.

MULLACHERY, P. H. et al. “Prevalence of pain and use of prescription opioids among older adults: results from the Brazilian Longitudinal Study of Aging (ELSI-Brazil)”. Lancet Regional Health. Americas, vol. 20, n. 100459, 2023.

OLIVEIRA, L. B. et al. “Abordagens multidisciplinares no tratamento da dor crônica: perspectivas e desafios”. Brazilian Journal of Health Review, vol. 6, n. 4, 2023.

PACHECO, C.; FOSSA, P. Phenomenological-Hermeneutical Approach to Borderline Personality Disorder. Leeds: Emerald Publishing Limited, 2025.

PIERETTE, S. et al. “Gender differences in pain and its relief”. Annali dell'Istituto Superiore di Sanità, vol. 52, n. 2, 2016.

PRETTO, Z. “Método fenomenológico e dialético existencialista e a etnografia: compreendendo modos de vida”. In: PRETTO, Z. et al. Existencialismo e ciência princípios metodológicos na pesquisa. Santa Maria: Arco Editores, 2022.

PRUDENTE, M. P. et al. “Tratamento da dor crônica na atenção primária à saúde”. Brazilian Journal of Development, vol. 6, n. 7, 2020.

QUIRINO, R. C. et al. “Violence, suffering and subversion: notes from a qualitative study about schooling trajectories of Brazilian young homosexuals”. Journal of Homosexuality, vol. 69, n. 14, 2021.

RAJA, S. N. et al. “The revised International Association for the Study of Pain definition of pain: concepts, challenges, and compromises: Concepts, challenges, and compromises”. Pain, vol. 161, n. 9, 2020.

RICE, K. et al. “Gendered Worlds of Pain: Women, Marginalization, and Chronic Pain”. The Journal of Pain, vol. 25, n. 11, 2024.

ROSSATTO, C. A. et al. “Por uma educação libertadora: o brincar como direito humano”. Periferia, vol. 16, n. 1, 2024.

RUBIO-GARRIDO, A. et al. “Experience of families during admission of their minors to a paediatric intensive care unit: a phenomenological study”. Scandinavian Journal of Caring Sciences, vol. 39, 2025.

SAINT AUBERT, E. “Introdução à noção de sustentação”. Aoristo - International Journal of Phenomenology, Hermeneutics and Metaphysics, vol. 1, n. 2, 2017.

SAINT AUBERT, E. “Portances de la reconnaissance”. DoisPontos, vol. 20, n. 1, 2023.

SANTOS, N. R. S.; CASTRO, M. M. C. “Dor Crônica: compreensão do idoso oncológico hospitalizado e suas estratégias de enfrentamento”. Revista Psicologia, Diversidade e Saúde, vol. 8, n. 2, 2019.

SILVA, M. G. S. et al. “Plano de parto como tecnologia educacional potente no pré-natal: uma interface com a fenomenologia”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 21, n. 62, 2025.

SILVA, R. F. N.; MOURA, R. R. “Espiritualidade e sentido de vida em pacientes com dor crônica no contexto de cuidados paliativos”. Revista Fragmentos de Cultura - Revista Interdisciplinar de Ciências Humanas, vol. 33, 2023.

STANIER, J.; MIGLIO, N. “Painful experience and constitution of the intersubjective self: A critical-phenomenological analysis”. In: COOLEY, D. R. The International Library of Bioethics. Cham: Springer International Publishing, 2021.

SVENAEUS, F. “The phenomenology of chronic pain: embodiment and alienation”. Continental philosophy review, vol. 48, n. 2, 2015.

TREEDE, R.-D. et al. “A classification of chronic pain for ICD-11”. Pain, vol. 156, n. 6, 2015.

TREEDE, R.-D. et al. “Chronic pain as a symptom or a disease: the IASP Classification of Chronic Pain for the International Classification of Diseases (ICD-11)”. Pain, vol. 160, n. 1, 2019.

TROCCOLI, I. R. “Estudo fenomenológico da prestação de serviço bancário-financeiro”. Boletim de Conjuntura (BOCA), vol. 23, n. 69, 2025.

VASCONCELOS, C. et al. “The Lebenswelt (Lifeworld) Of The Mother-Woman With Post-Partum Depression (PPD)”. Revista Argentina de Clínica Psicológica, vol. 32, n. 1, 2023.

VIEIRA, E. B. M. et al. “Chronic pain, associated factors, and impact on daily life: are there differences between the sexes?” Cadernos de Saúde Pública, vol. 28, n. 8, 2012.

VILELA, J. P. et al. “Interpreting a virtual reconstruction from different levels of detail: 3D modeling approaches combined with a phenomenological exploratory study”. International Journal of Architectural Computing, vol. 22, n. 3, 2023.

WERNER, A. et al. “I am not the kind of woman who complains of everything”: illness stories on self and shame in women with chronic pain”. Social Science and Medicine, vol. 59, n. 5, 2004.