HIDRELÉTRICAS NA PAN-AMAZÔNIA E A DESTERRITORIALIZAÇÃO DAS COMUNIDADES RIBEIRINHAS DE VILA DO TEOTÔNIO/BRASIL E CACHUELA ESPERANZA/BOLÍVIA
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Resumo
O objetivo do artigo é identificar os impactos das hidrelétricas Santo Antônio/Brasil e Cachuela Esperanza/Bolívia nos elementos vitais das comunidades ribeirinhas de Vila do Teotônio/Brasil e Cachuela Esperanza/Bolívia. O método utilizado foi o dialético que permite analisar os fenômenos estudados a partir da contradição apresentada por cada um deles. Os procedimentos metodológicos foram: i) pesquisa bibliográfica e documental; ii) trabalho de campo para coleta de dados primários através da aplicação de um formulário; iii) sistematização dos dados em planilhas, gráficos, tabelas, quadros e posterior análise. Os resultados evidenciam que as comunidades vivenciam os impactos das hidrelétricas em temporalidades distintas. Em Vila do Teotônio/Brasil, os moradores vivenciaram os impactos especulativos, imediatos e, atualmente, passam pelos impactos processuais da UHE Santo Antônio/Brasil, a população foi desterritorializada, comprometendo a pesca que era o elemento vital para a renda e subsistência local, esse processo ocasionou uma ruptura no padrão de organização da comunidade e descaracterização da identidade territorial dos moradores, pois os elementos vitais não foram preservados e restabelecidos no reassentamento, impossibilitando a reterritorialização. Os impactos identificados em Vila do Teotônio dão indícios de como poderá repercutir a instalação da UHE em Cachuela Esperanza, pois ambas as comunidades possuem uma identidade territorial ribeirinha. Em Cachuela Esperanza/Bolívia verificou-se que apesar da hidrelétrica ainda não ter sido construída, as especulações da obra impactam a região, a população local tem receio de que a obra seja construída, pois assim eles serão retirados da margem da cachoeira, ao mesmo tempo em que alguns moradores possuem uma esperança de que a obra traga desenvolvimento a região, esse quadro gera uma instabilidade no local. Conclui-se que a expansão energética dirigida para a Pan-Amazônia encontra espaço para sua concretização, pois nas áreas onde as obras são planejadas e construídas, são localidades marginalizadas que, muitas vezes, veem na instalação da obra uma esperança de desenvolvimento local. No entanto, a instalação de hidrelétricas tem ocasionado diversos impactos as comunidades ribeirinhas, pois a territorialização das obras se sobrepõe a das comunidades ribeirinhas que possuem nas atividades vinculadas aos rios, os elementos vitais para a obtenção da renda e subsistência familiar. A desterritorialização das comunidades para dar lugar às obras, evidencia as relações de poder manifestas no território amazônico, que por sua vez, passa a atender uma lógica global/nacional de cunho estritamente econômico.
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